A Marinha Portuguesa na I Guerra Mundial PARTE II – A acção da Marinha na Europa A Defesa das Costas de Portugal e das Ilhas Atlânticas Armando Bordalo Sanches
(Continuação) Vimos anteriormente, que tendo como objectivo a organização da nossa defesa marítima, foi criada por Portaria de 5.07.1915, uma “ Divisão Naval de Defesa e Instrução ”, inicialmente constituída pelos navios: cruzadores “ VASCO DA GAMA ”,“ ALMIRANTE RÉIS ” e “ ADAMASTOR ”, contra-torpedeiros “ DOURO ” e “ GUADIANA ”, torpedeiros “ N.º 1 ” e “ N.º 2 ”, submarino “ ESPADARTE ” e vapor “ LIDADOR ” e que, o comando desta Divisão foi entregue ao capitão-de-fragata Daniel Leote de Rego. Vimos também, que a declaração de guerra que a Alemanha fez a Portugal, foi originada essencialmente, pela apreensão de 35 navios alemães e 1 austríaco levada a efeito em águas territoriais portuguesas, aos 23 de Fevereiro de 1916. Visando a correcta identificação histórica das situações de facto e de ocorrências com interesse para o estudo deste tema, vamo-nos socorrer da obra intitulada, “ PORTUGAL NA GRANDE GUERRA – OITAVA PARTE / A MARINHA PORTUGUESA NA GRANDE GUERRA MUNDIAL ”, edição da “ Editorial Ática, Lda. ”, em Março de 1938 e sobre a direcção do General Ferreira Martins, transcrevendo na íntegra alguns trechos da mesma. - A DIVISÃO NAVAL “ Após o movimento revolucionário ocorrido aos 5.12.1917, chefiado por Sidónio Pais, de que resultou o exílio de Leote do Rego, foi extinta a Divisão Naval, ficando todos os serviços de defesa marítima no Continente, Ilhas Adjacentes e Cabo Verde, a cargo de uma nova dependência autónoma da Majoria General da Armada, o Comando Central de Defesa Marítima, com sede em Belém, na antiga Superintendência dos Serviços Navais de Defesa Submarina, que passou a designar-se, Superintendência da Defesa Marítima do Porto de Lisboa, chefiado pelo capitão de mar e guerra, Júlio Galis, como Inspector da Defesa Marítima Se o triunfo daquele movimento revolucionário acarretou um certo retraimento na nossa acção militar em França, com comodidade para uns e injustiça para outros, na Marinha não se produziram alterações sensíveis nos serviços que, debaixo das denominações indicadas, continuaram a ser desempenhados como até ali, mantendo-se a mesma orientação seguida na D. N., pela passagem do Chefe do E. M. de Leote do Rêgo, ao Comando Central de Defesa Marítima, onde continuou a exercer o seu patriótico esfôrço em prol da Marinha e da causa dos Aliados. B) – A DEFESA DA BARRA DE LISBOA A defesa das costas marítimas de Portugal e Ilhas Adjacentes foi distribuída pelas Bases Navais de Lisboa, Leixões e Ponta Delgada, pela esquadrilha Fiscal da Costa, sediada em Faro, e pela reduzida força marítima do Funchal. A Base Naval de Lisboa compreendia, além dos serviços centrais, Divisão Naval e Aviação Marítima, a Superintendência do Serviço Naval de Defesa Marítima, criada por decreto de 17 de Abril de 1916, á qual competia a defesa da barra de Lisboa por intermédio dos seguintes organismos:- Barragens – Pilotagem – Submarinos – Lança-minas – Baterias e Postos de Vigilância. Em Dezembro de 1917 montou-se mais o Serviço de Fiscalização das Docas ( de que foi chefe o capitão de fragata Moreira Rato ). Esquadrilha de Patrulhas – O Serviço de patrulhas compreendia as patrulhas de alto mar, que também prestavam combóios à navegação entre o Continente e as Ilhas Adjacentes, e as patrulhas auxiliares. No Funchal costumava permanecer uma patrulha de alto mar para aquele efeito. O serviço de vigilância na barra de Lisboa era permanente, de dia e de noite, e feito por dois grupos de patrulhas distribuídos por duas zonas: a zona Norte da Barra – Cascais, Cabo Raso e Cabo da Roca – e a zona Sul – Espichel e, ocasionalmente, Sesimbra. De começo, as patrulhas estavam organizadas em 3 divisões, servindo de divisionários os contra-torpedeiros “ GUADIANA ” E “ DOURO ”, que depois passaram ao serviço de combóios para França, e a canhoneira “ LIMPOPO ”. As patrulhas eram constituídas por um grupo de dois barcos, geralmente vapores de pesca mobilizados, navegando normalmente à distância de 400 metros, que se rendiam no mar de três em três dias, e cujo serviço era regulado por instruções muito meticulosas. As patrulhas auxiliares eram constituídas por gasolinas tripulados por pessoal da secção de A. D. M. e que foram empregados, de começo e durante um certo tempo, na barra e entre Cascais e Belém. Mais tarde, foi estabelecido um serviço de assistência a pescadores, prestado por pequenos vapores armados, na zona entre Cabo Raso e Setúbal. Um navio de vigilância junto das barragens interiores, de caldeiras acesas e pronto a largar a amarra por mão em casos de urgência, fiscalizava os navios em trânsito. C) – A BASE NAVAL DE LEIXÕES A defesa da Barra do Douro e de Leixões foi iniciada em 12.3.1916 pelo Chefe do Departamento Marítimo do Norte (capitão de mar e guerra Cunha Lima) e consistia numa barragem de rede metálica à entrada do porto de Leixões, uma peça e um projector no Extremo do molhe Sul do mesmo porto Em Fevereiro de 1917, como os franceses reconhecessem a vantagem de se estabelecer em Leixões uma Base de abastecimentos para os cruzeiros que faziam, protegendo a navegação aliada no Atlântico, e por acordo realizado entre os dois Governos, foi estabelecida uma Base Naval Francesa em Leixões. Ao mesmo tempo, intensificavam-se os meios de defesa daquela zona marítima que ficaram constituídos por: uma peça S.C.t.r. 15/45 ao N. de Leixões ( Rodão ); uma bateria de 2 peças A. 15/28 ao S. do Douro ( Lavadores ); uma peça S.C.t.r. 10/45, com projector, no molhe S. de Leixões; uma rede metálica móvel, à entrada do porto de Leixões; canais dragados de minas, e determinados segundo enfiamentos em terra, para darem com segurança acesso ao porto de Leixões e à barra. A rocega das minas era feita pelos vapores “ AÇOR ” e “ MARIA VICTÓRIA ” ( 1.º tenente Gagean e 2.º tenente Botelheiro ) que trabalhavam separadamente empregando o sistema Ronarc’h, dos quais, de começô, só um era armado com uma insignificante peça de 37 m/m que apenas servia para o afundamento das minas rocegadas. E com êste ridículo armamento teria defender-se em qualquer possível encontro com um submarino inimigo, principalmente quando os vapores eram empregados em serviço de combóio a navios mercantes. Em Setembro do mesmo ano encontrava-se montada a base Naval Francesa de Leixões que se instalou no Pôsto de Desinfecção, sob o comando do capitão de fragata René Nielly, tendo como subalternos, um 1.º tenente, um médico, um engenheiro naval e dois comissários. No mar, dispunham os franceses de 6 barcos patrulhas – chalutiers – bem armados e dispondo de T.S.F., saber:- “ CYCLONEN ”, “ FUCHNO ”, “ HORTENSIA ”, “ MEDOC ”, “ MIMOSA ” e “ PETUNIA ”, e de duas traineiras, “ GREVETTE ” e “ PIEUVRE ”. Estes navios prestaram muitos bons serviços, patrulhando até à altura do Cabo Finisterra, ponto preferido pelos submarinos alemães para atacar a navegação aliada, e ainda para além, do que resultou a raridade daqueles ataques, sem que os nossos patrulhas pudessem concorrer em tão larga escala com os franceses como se desejava, devido à deficiência de meios de defesa e carência de T.S.F. Subordinada a esta Base estava o Centro de Aviação Francesa de Aveiro. A apreeensão dos navios neutros em águas nacionais por navios que não eram portugueses, tornou-se assunto de solução melindrosa, mas que sempre foi resolvido com tato e bom entendimento entre as nossas autoridades navais e as francesas. O Govêrno francês agraciou alguns dos nossos oficiais, e o Govêrno português, alguns oficiais franceses, que cooperaram nos serviços desta Base. No último leilão do Clube Filatélico de Portugal – n.º 17 de 2.07.2005-, foi vendido um lote de 13 sobrescritos (Lote n.º 624) , expedidos por um militar da Base Naval Francesa, em Leixões, cujo feliz contemplado foi o Distinto filatelista, Guilherme Rodrigues, que amavelmente as disponibilizou para este estudo. Além destes 13 exemplares conhecemos mais dois; um pertencente ao Ilustre e Distinto filatelista, Joaquim Sousa Lobo, que reproduzimos na Figura 1, e outro pertencente ao igualmente Ilustre e Distinto filatelista, Dr. Luís Frazão, reproduzido na Figura 1 do seu artigo intitulado, “ Será o documento acima representado um Isento de Franquia de Portugal ” ?, publicado no n.º 61 de Julho de 2000 do Jornal de Filatelia, Edição do Clube Nacional de Filatelia. Figura 1 - Cortesia de Joaquim Sousa Lobo Sobrescrito remetido por E. Bertholieu, em serviço na Base Naval Francesa, em Leixões, sem marca de trânsito de Matosinhos, para Herault ( França ). Beneficiou da isenção de porte que lhe foi concedida pelo Governo Francês, utilizando para esse efeito a marca de duplo círculo, batida a violeta e legendada, “ MARINE FRANÇAISE/SERVICE A LA MER ”. Na análise efectuada a estas 15 correspondências, facilmente se constata que: a. Foram todas expedidas pelo mesmo remetente, o Quartiermaitre de Timonerie francês, E. Berthomieu e para o mesmo destinatário, Mademoiselle Marie Rocher, em Herault (França); b. O remetente, especifica em sete (7), encontrar-se a bordo do chatulier “ BEGONIA ”, designação esta que estranhamente não se encontra incluída nas dos barcos patrulha do grupo anteriormente descrito. Comprova-se tal realidade com a correspondência reproduzida na Figura 2. Figura 2 - Cortesia de Guilherme Rodrigues Expedida da Base Naval Francesa, em Leixões ( Matosinhos )–18.07.1918-, pelo citado militar francês, a bordo do barco patrulha “ BEGONIA ”, via Lisboa – onde foi visada pelos Serviços de Censura Postal -, para Herault ( França ). Beneficiou de Isenção de Porte nos mesmos moldes da anterior. c. Noutras duas ( 2 ) revela-nos que se encontra a bordo do barco patrulha “ HORTENSIA ”, o que se constata através do sobrescrito da Figura 3. Figura 3 - Sobrescrito enviado da Base Naval Francesa, em Leixões ( Matosinhos ) –10.08.1918-, pelo mesmo expedidor, a bordo da chalutier “ Hortênsia ”, para Herault ( França ). Circulou Isento de Franquia nos mesmos moldes das anteriores. d. Nas restantes seis ( 6 ), não faz alusão a qualquer barco patrulha, o que se comprova com a correspondência da Figura 4. Figura 4 - Cortesia de Guilherme Rodrigues Enviada da Base Naval Francesa, em Leixões (Matosinhos) –11.12,1918-, pelo referido militar francês, para Herault ( França ). Beneficiou de Isenção de Porte nos mesmos moldes das anteriores. e. Todas elas beneficiaram do privilégio de Isenção de Porte, concedido pelo Governo Francês, em regra, simultaneamente, através da marca francesa de duplo círculo ( 37 e 25 mm ), batida a violeta e legendada, “ MARINE FRANÇAISE/SERVICE À LA MER ”, que passamos a designar por TIPO “ LEIXÕES 1 ” e da identificação na parte superior dos frontispícios das mesmas, do seu remetente e do local onde se encontra ( a bordo dos patrulheiros ou Leixões ). f. Algumas ( 8 ) evidenciam terem transitado pelo Correio português ( marca postal de Matosinhos ), onde somente duas foram visadas pelos Serviços de Censura Postal ( uma em Lisboa e outra no Porto ) e as restantes ( 7 ) sem qualquer marca postal portuguesa. Comprovamos o que atrás foi referido com as correspondências reproduzidas na anterior Figura 2 e na Figura 5. Figura 5 - Cortesia de Guilherme Rodrigues Correspondência remetida da Base Naval Francesa, em Leixões ( Matosinhos ), pelo mesmo expedidor, sem marca postal portuguesa, via Bordéus, para Herault ( França ). Beneficiou de Isenção de Franquia nos mesmos moldes das anteriores. O que atrás foi exposto permite-nos de imediato, afirmar que: 1. Estamos perante um raro conjunto de correspondências postais francesas – Isentos de Franquia Franceses -, expedidas por um militar da Marinha de Guerra Francesa, a prestar serviço na Base Naval Francesa, estabelecida em Leixões, mais concretamente, nos barcos patrulha/chalutiers, o qual por acordo bilateral estabelecido entre Portugal e a França, cooper0u com a Marinha de Guerra Portuguesa na defesa das rotas do Oceano Atlântico e daí, o seu indelével contributo na valorização da História Postal Marítima e Militar de Portugal; 2. É muito estranho, que encontrando-se o Centro de Aviação de Aveiro subordinado a esta Base Naval Francesa ( ao Comandante da mesma ), em Leixões, somente aquele tenha solicitado o benefício de Isenção de Porte, para as correspondências expedidas pelos militares nele estacionados; 3. Estamos convictos, que tratando-se de uma Base Naval Francesa, apesar do funcionamento da mesma no seu todo, estar indubitavelmente condicionado ao estrito cumprimento do acordo celebrado com Portugal, todas as actividades desenvolvidas pelos cooperantes desta força da Marinha Francesa, entre elas, o Serviço Postal da Base ( Expedição/Recepção/Isenção de Franquia, etc... ), se regiam pela Lei francesa e de acordo com as directrizes e regulamentos emanados pelo capitão de fragata René Nielly, na qualidade de comandante da Base; pelo que, forçosamente, se deve concluir que, será sempre requisito primário e fundamental, para que estas correspondências, eventualmente, também possam vir a ser consideradas, como “Isentos de Franquia de Portugal ”, a comprovação do inerente e indispensável suporte legal emanado ou, pelo Governo Português ou pela Administração Postal Portuguesa, situação de facto que até hoje não se verificou e/ou, confirmou. D) – A ESQUADRILHA FISCAL DA COSTA Esta Esquadrilha, com sede em Faro, acumulou durante a guerra as funções de fiscalização da pesca com as de vigilância no mar, e dela fizeram parte a canhoneira “ LÚRIO ”, rebocadores “ LIDADOR ” e “ MINHO ”, vapores “ VULCANO ” e “ CARREGADO ”; o vapor “ GALGO ”, que não dependia da Esquadrilha, cruzava entre S. Vicente e Lagos. Quando em 1917, se intensificou a guerra submarina, causando grandes estragos na navegação, os franceses e os ingleses mantiveram na zona do Cabo de S. Vicente duas esquadrilhas que se rendiam de seis em seis dias. A francesa que tinha a base em Casa Branca, compunha-se dos submarinos “ AMPÉRE ” e “ PAPIN ” e de um caça-minas, e abastecia-se em Lagos. A inglesa, composta por um cruzador auxiliar e dois torpedeiros, era comandada por um capitão de mar e guerra e costumava permanecer na enseada da Balieira junto de Sagres. O “ GALGO ” colaborou com estas patrulhas. E) – A AVIAÇÃO MARÍTIMA Ao rebentar a guerra, a aviação estava longe de ter o desenvolvimento e a importância que mais tarde veio a adquirir. A Aviação Marítima em Portugal foi criada pelo decreto de 28 de Setembro de 1917 que estabeleceu o Centro de A. M. de Lisboa. Por uma convenção previamente realizada entre os governos português e francês, deveríamos dispor de dois centros de aviação marítima, um em Lisboa e outro no Algarve, contudo, este não chegou a estabelecer-se, apesar das tentativas feitas para o montarmos na Ilha da Culatra, já por deficiência de pessoal especializado, já pela demora nas construções indispensáveis que ficaram incompletas. No Norte, e em virtude da mesma convenção, foi estabelecido um centro de aviação francesa em Aveiro, subordinado à Base Naval de Leixões; e, mais tarde, tratou-se ainda da criação de um centro no Faial, com a cooperação da Aviação Americana, chegando a receber-se ali quatro aparelhos que não foram utilizados porque entretanto se assinou o armistício. O C. A. M. de Lisboa iniciou as operações de guerra em 24 de Dezembro de 1917, com dois pequenos aparelhos F. B. A. rotativos, já então fora de uso por não merecerem confiança, com os quais se fizeram vários reconhecimentos na região dos campos de minas, entre cabos, chegando a afastar-se 20 milhas, ou mais, em alertas de submarinos inimigos. Vieram depois os aparelhos Tellier D. D., nos quais se fizeram reconhecimentos na costa, até a Aveiro. Alguns reconhecimentos foram feitos a tal distância da costa que, em caso de panne, seria quási impossível socorrer os aparelhos. O Centro de Aviação Marítima de Aveiro instalado em 1918, e onde o primeiro voô se realizou a 9 de Maio, era dirigido pelo tenente piloto aviador da marinha francesa Maurice Larrouy; os aparelhos de que dispunha eram franceses, e nêle serviam, como adjuntos, um oficial (1.º tenente Tavares da Silva ) e praças da nossa Armada. Tinha anexo um pôsto de T.S.F., e competia-lhe a vigilância e defesa da costa desde o Minho ao Mondego, havendo a registar, nos serviços prestados por êste Centro, além de patrulhas e combóios a numerosos navios de comércio, os seguintes ataques: a. em 11 de Maio, a um submarino alemão assinalado a 5 milhas ao S.W. do farol de Aveiro, e que teve como consequência desembaraçar o caminho aos navios do bacalhau a sair para a campanha daquele ano; b. em 5 de Setembro, a dois submarinos inimigos, um dos quais tinha bombardeado o “ Desertas ”, encalhado na Costa Nova, com fortes probabilidades de um dêles ter sido afundado; c. em 13 de Setembro, ataque a um submarino alemão a 20 milhas da costa de Aveiro. Relativamente a este Centro de Aviação, fui inesperada e agradavelmente surpreendido em Julho passado, com as cópias de três preciosos e inéditos documentos - cujo teor incide essencialmente no pedido e posterior concessão, do benefício de Isenção de Franquia, aos militares franceses deste Centro -, que o Distinto filatelista, Guilherme Rodrigues, amavelmente me ofereceu, razão pela qual aqui lhe manifesto o meu duplo agradecimento pela sua preciosa colaboração. O primeiro, remetido de Lisboa, aos 13.05.1918, pelo Oficial Adido ao Centro de Aviação de Aveiro, 1º tenente Tavares da Silva, para a Majoria General da Armada em Lisboa, a solicitar que esta interceda, “ junto das autoridades competentes para que toda a correspondência destinada ao pessoal de Aviação francesa em Aveiro, enviada de França, não sofra taxa ou sobretaxa e bem assim toda a correspondência enviada para França pelo mesmo pessoal, desde o momento que no sobrescrito seja aposto o carimbo a tinta de óleo: “Aviation Maritime Française” com a menção do nome e da qualidade do expedidor, isto a exemplo das disposições adoptadas em França para todos os corpos expedicionários estrangeiros. Seria vantajoso que as autoridades postais, concedendo estas benevolências, fizessem disso sabedor o Comandante da Aviação de Aveiro, o tenente Larrouy, e avisassem os serviços postais respectivos ”. No segundo - Ofício n.º 340 de 14.05.1918-, expedido da Majoria General da Armada, em Lisboa, para o Administrador Geral dos Correios e Telégrafos, solicitam-se, “ as ordens convenientes para que toda a correspondencia dirigida ao pessoal do Centro de Aviação de Aveiro, enviada de França, não sofra qualquer taxa ou sobretaxa, bem como que a toda correspondência enviada para a França pelo respectivo pessoal, quando não sobesseja posto o carimbo a olio: “ Aviation Maritime Française ” com a menção do nome e da (qualidade do expedidor, seja extensivo a mesma regalia que em França é adoptada para os Corpos Expedicionários estrangeiros”. O terceiro - o mais preponderante -, remetido da Administração Geral dos Correios e Telégrafos, aos 27.5.1918, para a Majoria General da Armada, a comunicar, “ que por despacho de Sª Exª o Secretário d’Estado do Comércio com data de 20 foi determinada a isenção de franquia para a correspondência enviada para França pelo pessoal do Centro de Aviação ”, que, devido ao seu inequívoco interesse para a História Postal Portuguesa ( Correio Marítimo, Aéreo e Militar e, para a Isenção de Franquia ), se reproduz integralmente na Figura 6. Figura 6 - Cortesia de Guilherme Rodrigues Várias são as ilações que se podem retirar do conteúdo destes 3 documentos, designadamente: A evidente e humana preocupação do 1º tenente Tavares da Silva, adjunto do comandante do Centro de Aviação, tenente aviador Maurice Larrouy, que a Isenção de Porte solicitada para as correspondências expedidas pelos militares franceses, fosse extensiva às que os mesmos recebessem de França, sem franquia ou insuficientemente franquiadas; Estar condicionado o privilégio de Isenção de Porte das correspondências expedidas, à exibição em simultâneo, do carimbo legendado, “Aviation Maritime Française”, da menção do nome e da qualidade do expedidor; e que, Estas regalias, segundo a óptica do citado oficial português, não eram mais do que as adoptadas em França para todos os corpos expedicionários estrangeiros; O despacho do Sr. Secretário do Estado do Comércio, datado de 20.5.1918, apenas concedia Isenção de Franquia, à correspondência enviada para França pelo pessoal do Centro de Aviação; uma vez que, “ ás correspondências procedentes de França, dirigidas aos militares de terra e mar em serviço em Portugal já fôra determinado por despacho de 19 de Outubro do ano findo que não fossem porteadas as que chegassem sem selos ou insuficientemente franquiadas, o que foi participado aos Chefes dos serviços dos correios e telégrafos por circular N.º 30 do ano findo ”; Para além do que atrás foi descrito, `resta-nos acrescentar que: Até à entrada em vigor deste Despacho, 20.05.1918, apenas se conhece uma correspondência – à qual se deve atribuir por conseguinte, um elevado grau de raridade -, que revela fortes indícios de ter sido remetida por um dos militares franceses estabelecidos neste Centro de Aviação de Aveiro, nomeadamente, o postal da Figura 2 do artigo filatélico do Dr. Luís Frazão – já anteriormente citado –, publicado no n.º 61 de Julho de 2000 do Jornal de Filatelia, edição do Clube Nacional de Filatelia, que pela sua relevância para este estudo ousamos, com a devida vénia, reproduzir na Figura 7. Figura 7 - Remetido de Aveiro – 6.5.18-, com o texto escrito em francês, exibe no topo superior as referências manuscritas, “ Aveiro 5,5.18 ”, “ F. M. ” ( Franchise Militaire ) e “ França ” e, no canto superior direito, um carimbo de duplo círculo, batido a violeta e legendado, “ Capitania do Porto de Aveiro ”, transitou pelo Porto - onde foi visado pelos Serviços de Censura Postal -, para Bergiers, Herault ( França ). Ostenta a marca de porte a pagar ( pelo destinatário ), do correio de Aveiro, “ T “ ( Taxa Devida ou Taxa a Cobrar ), em virtude do remetente, não ter pago o porte devido. Apesar dos elementos evidenciados no postal atrás descrito, indiciarem a probabilidade de ser uma correspondência expedida por um dos militares franceses destacados no Centro de Aviação Marítima de Aveiro, em virtude da Administração Postal ( Correio ) ter constatado, que não ostentava os requisitos ( ou pelo menos alguns dos ) indispensáveis exigidos pelo regulamento postal em vigor ( o ónus da prova ), classificou-a como correspondência particular não franqueada e, em consequência determinou, que não podendo a mesma usufruir de Isenção de Porte, tinha de ser porteada. Senão vejamos. A permuta de correspondências entre, Entidades e Organismos Públicos (Serviço Oficial), sempre obedeceu a regras e regulamentos específicos, como por exemplo: exibirem as siglas, S.N.R., S.R., etc...,, a identificação do remetente e do destinatário e serem os dois intervenientes, entidades ou organismos públicos, serem apresentadas em mão no Correio, etc.. . Ora, ao verificar-se que o postal em apreço – lançado na caixa do correio sem a correspondente franquia - remetido para França (por um cidadão estrangeiro), não identificava o nome e a qualidade do remetente, não era dirigido a qualquer entidade pública nem aludia a qualquer disposição legal (autorização do benefício de isenção) e, apenas exibia um mero carimbo administrativo da Capitania do Porto de Aveiro – que até podia ter sido utilizado abusivamente - sem qualquer efeito legal para o objectivo pretendido, é bem evidente que o funcionário dos correios só podia proceder como procedeu, uma vez que em caso de incumprimento do seu dever, incorria no risco de suportar o pagamento do porte devido e de processo disciplinar, O teor dos 3 documentos atrás referenciados comprovam-nos o correcto procedimento do funcionário, já que os militares franceses só vieram a beneficiar de Isenção de Porte a partir de 20 de Maio de 1918. Não conhecemos qualquer exemplar circulado – Expedido ou Recepcionado - após a entrada em vigor do Despacho de 20.05.1918. F) – A BASE NAVAL DE PONTA DELGADA Os Acôres ocupam uma posição privilegiada no Atlântico, sob o ponto de vista da guerra naval. Logo a seguir à declaração da guerra a Portugal, foi o capitão do pôrto de Ponta Delgada (capitão de fragata Júlio Milheiro ) encarregado de organizar a defesa de S. Miguel de acôrdo com o Comandante Militar, e mais tarde foi nomeado Comandante da Defesa Naval dos Açôres. Fraquíssimos, para não dizer nulos, eram os meios defensivos do arquipélago, e em Abril seguiram do nosso Arsenal para Ponta Delgada 5 peças A. 10/28, de reparo naval Vavasseur, que pertenceram às antigas canhoneiras Ave, Rio Lima e Zambeze, com as quais se montaram as baterias do Espaldão, 3 peças, e da Mãe de Deus, 2 peças. Nas águas dos Açores estacionava então a velha e insignificante canhoneira “ AÇOR ” ( 1.º tenente Goulart de Medeiros ), que, mesmo assim, prestou relevantes serviços na reparação dos cabos submarinos inglêses, e foi com estes limitadíssimos meios de defesa que o pôrto de Ponta Delgada, para não falar nos outros do arquipélago, se encontrou na guerra. G) – NA MADEIRA O Funchal sofreu por duas vezes o ataque dos submarinos inimigos. O primeiro foi em 3 de Dezembro de 1916, quando o submarino alemão U – 83 torpedeou três navios, dois franceses e um inglês, que estavam fundeados no pôrto, afundando-os. O mesmo submarino bombardeou a seguir a cidade, mergulhando logo que as baterias de terra abriram fogo sôbre ele. A defesa marítima do Funchal de que o capitão do pôrto, o capitão de fragata Sales Henriques, foi Comandante, limitava-se a 3 barcos patrulhas, “ DORY ”, “ DEKADE I ” e “ MARIANO DE CARVALHO ”, armados, cada um, com uma peça H. 47 m/m, e um gasolina armado com um canhão-revólver, cujas guarnições eram mixtas, e para estes serviços tinha o mesmo Comandante sob as suas ordens um destacamento de 20 praças. Foi notável a acção dos dois últimos daqueles barcos quando, em 12 de Dezembro de 1917, saíram para o mar em perseguição de um submarino alemão U – 155 que bombardeou a cidade, causando mortos e feridos além de prejuízos materiais, sustentando combate por mais de duas horas, até que o inimigo retirou. Contudo, êste comportamento heróico das guarnições dos patrulhas foi tomado no Funchal como causa do bombardeamento, parque a propaganda germanófila, que ali se fazia sentir intensamente, espalhou que os submarinos só fariam fogo sobre a cidade se fôssem atacados, e por isso os navios de vigilância deveriam limitar-se a observar, sem atacarem qualquer submarino inimigo que aparecesse. Queijas, 12 de Setembro de 2005
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